Jovens de 15 a 29 anos são os que mais usam máquinas de PrEP, de prevenção ao HIV, no metrô de SP

 Jovens de 15 a 29 anos são os que mais usam máquinas de PrEP, de prevenção ao HIV, no metrô de SP



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Jovens de 15 a 29 anos representam 46,1% dos usuários que mais fazem uso das máquinas de PrEP (profilaxia pré-exposição) instaladas nas estações Vila Sônia, Luz, Consolação e Santana do Metrô de São Paulo, segundo dados da SMS (Secretaria Municipal de Saúde).

Em funcionamento há pouco mais de um ano e pioneira na América Latina, a iniciativa oferece medicamentos de prevenção contra o HIV de forma prática, gratuita e automatizada, como PrEP, PEP (profilaxia pós-exposição) e autotestes de HIV.

A PrEP age bloqueando os caminhos que o vírus do HIV usa para invadir o organismo, dando proteção contínua quando tomada regularmente antes da exposição, diferentemente da PEP, que deve ser tomada em até 72 horas após uma exposição de risco para impedir a infecção.

As máquinas, semelhantes às de refrigerantes e salgadinhos, funcionam mediante um QR Code obtido após prescrição médica em teleconsulta pelo aplicativo e-saúde, da prefeitura.

Depois do público jovem, pessoas de 30 a 39 anos representam 41,5% dos usuários que mais fazem retiradas, enquanto 10% têm entre 40 e 49 anos e apenas 2% são maiores de 50 anos.

Atualmente, a cidade de São Paulo conta com 70,1 mil pessoas com cadastro ativo para retirada dos medicamentos.

A tecnologia tem sido bem recebida pela população. No X (antigo Twitter), usuários destacam a eficiência e a conveniência do serviço.

Um internauta reconhece o investimento público, afirmando que “realmente a prefeitura de SP consegue investir em algumas coisas boas para a saúde”.

Em outra publicação, um usuário reforça a importância da iniciativa, dizendo que “São Paulo realmente é grandona na prevenção”.

As primeiras unidades começaram a funcionar em junho de 2024, na estação Vila Sônia, seguidas pela instalação na estação Luz, em julho daquele ano. Já em fevereiro de 2025, a ferramenta foi disponibilizada na estação Tucuruvi, mas transferida para a estação Santana em agosto deste ano, atendendo à demanda da população. A estação Consolação recebeu as unidades em abril de 2025.

Desde o início do funcionamento, foram registradas ao todo 4.878 retiradas: 2.265 na Luz, 1.406 na Vila Sônia, 965 na Consolação e 242 em Tucuruvi/Santana.

A SMS informou que estuda expandir o projeto para novos pontos da capital, de acordo com a procura.

Já a evolução mensal das dispensas mostra um salto expressivo. Em junho de 2024 foram 38 entregas, subindo para 628 em julho, e até 17 de agosto já haviam sido entregues 369 frascos.

A concessionária ViaQuatro, que administra as estações da Linha 4-Amarela, disse que a iniciativa é estratégica e relevante para a população em geral, porque facilita e amplia o acesso aos medicamentos contra o HIV.

“A linha 4-Amarela pode ser acessada por outras cinco linhas, entre trem e metrôs, além de quatro terminais de ônibus, inclusive intermunicipais. Ou seja, independentemente de onde moram, as pessoas sabem que podem encontrar as máquinas em dois locais de fácil acesso”, informou em nota.

O SUS (Sistema Único de Saúde) começou a distribuir a PrEP em dezembro de 2017, inicialmente para populações sob maior risco de infecção pelo HIV, com expansão gradual em todo o país a partir de 2018. Já a PEP está disponível no SUS desde 1999.

A iniciativa das máquinas nos metrôs de São Paulo surgiu a partir da necessidade de ampliar o acesso a essa prevenção para públicos que têm dificuldade ou não costumam procurar unidades de saúde, especialmente jovens.

“A gente precisava estar onde as pessoas estavam, oferecendo a prevenção de forma acessível e descomplicada. E começamos a pensar em formar de ampliar esse acesso”, diz Cristina Abbate, coordenadora da área de IST/Aids da SMS.

A estratégia incial foi levar a PrEP para as ruas, ou seja, ações em ambientes fora das unidades tradicionais. A primeira ação desse tipo aconteceu no Minhocão, num domingo de 2021. “Em apenas quatro ou cinco horas, foram feitos 240 pedidos de PrEP”, diz Abbate.

Desde o início da iniciativa PrEP na rua, em 2021, já foram realizadas aproximadamente 2.500 edições, segundo a SMS.

Depois veio o serviço itinerante em micro-ônibus, chamado CTA da Cidade, que circulava por São Paulo nos fins de tarde, à noite e também nos fins de semana, oferecendo diagnóstico de HIV, sífilis e outras ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis).

“Eu costumava brincar com a equipe dizendo que a PrEP deveria estar disponível para as pessoas em máquinas de refrigerante, espalhada por vários lugares”, diz Abbate.

A partir dessa ideia, a equipe se mobilizou para buscar referências e identificou iniciativas que dispensavam alguns medicamentos por máquinas em outros locais. Após várias reuniões, foram adaptadas máquinas para a distribuição dessas profilaxias, como as instaladas atualmente em São Paulo.

COMO RETIRAR A MEDICAÇÃO?

Para retirar o medicamento, o usuário deve agendar e realizar uma teleconsulta médica gratuita pelo aplicativo e-saúdeSP, clicando no canal SPrEP, disponível das 18h às 22h, inclusive em feriados. Após avaliação clínica e confirmação de HIV negativo, que pode ser por autoteste distribuído gratuitamente em unidades de saúde da cidade, é emitida uma receita digital com QR code.

Com esse código, o usuário pode retirar o medicamento na máquina, ou em unidades convencionais, conforme indicação médica.

“Toda vez que o usuário pega PrEP ou PEP na máquina, recebe também um autoteste, que pode ser utilizado por ele mesmo em uma futura retirada ou oferecido a um parceiro ou amigo para incentivar o início da profilaxia”, explica a coordenadora da SMS.

A retirada também é uma oportunidade para a ampliação do cuidado integral à saúde sexual, permitindo o rastreamento de outras ISTs e a oferta de vacinação profilática.

Para os usuários de PrEP entre 15 e 45 anos, por exemplo, a vacinação contra o HPV é indicada, em esquema de três doses -a segunda dose é aplicada dois meses após a primeira, e a terceira, seis meses depois.

Da mesma forma, a vacina contra a Hepatite A também é recomendada a partir dos 15 anos que utilizam a PrEP, em duas doses com seis meses de intervalo. Mais informações podem ser consultadas no site oficial da prefeitura de São Paulo.

OUTRAS INICIATIVAS DE ENFRENTAMENTO

Além das máquinas de PrEP, PEP e autotestes de HIV instaladas nas estações de metrô, a prefeitura de São Paulo oferece outras iniciativas presenciais para o enfrentamento do HIV/Aids e a promoção da prevenção.

Na estação de metrô da República, é possível encontrar a Estação Prevenção Jorge Beloqui, inaugurada em junho de 2023. Ela funciona de terça a sábado, das 17h às 23h, sem necessidade de agendamento, e já realizou cerca de 24 mil atendimentos, oferecendo PrEP, PEP, testes rápidos e terapia antirretroviral.

“O atendimento é super humanizado, as pessoas são muito simpáticas, desde a recepção até os profissionais de saúde que fazem a coleta de sangue e explicam todo o procedimento para o uso do remédio”, afirma o jornalista Ítalo Marques, 28, que se consultou no local num domingo para dar continuidade no tratamento de PrEP.

Também é possível acessar os SAEs (Serviços de Atenção Especializada), com 17 unidades que oferecem atendimento integral para pessoas vivendo com HIV/Aids, incluindo consultas médicas, acompanhamento, exames laboratoriais, apoio psicológico e prevenção combinada.

Outro destaque são os CTAs (Centros de Testagem e Aconselhamento), que disponibilizam diagnóstico, orientações, testes rápidos, preservativos e profilaxias.

QUEM PODE TOMAR PREP?

A PrEP pode ser usada por qualquer pessoa que se veja vulnerável à exposição ao HIV, independente da orientação sexual ou tipo de relação, segundo a infectologista Carla Kobayashi, do Sírio-Libanês em São Paulo.

“A PrEP é segura, com efeitos colaterais raros e geralmente leves, como náuseas ou desconfortos intestinais iniciais. O antigo receio de efeitos renais e ósseos severos foi superado. Esses efeitos são incomuns se houver acompanhamento médico”, afirma.

Segundo a infectologista, a decisão do uso é compartilhada entre paciente e profissional.

O infectologista David Lewi, do Hospital Albert Einstein, afirma que o acesso facilitado pelas máquinas é essencial, já que muitas pessoas não usam camisinha regularmente, mas faz um alerta sobre outras infecções.

“A PrEP protege contra o HIV, mas não previne outras ISTs, como sífilis. Por isso, a testagem regular continua sendo fundamental”, disse.

O uso da PrEP pode ser feito de duas formas distintas. A primeira é o uso contínuo, que consiste na ingestão de um comprimido por dia, todos os dias, garantindo proteção constante.

A segunda é o uso sob demanda, indicado para situações específicas, seguindo o esquema 2+1+1, ou seja, dois comprimidos antes da relação sexual e mais dois após, em intervalos definidos.

O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.



Fonte: Notícias Minuto

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