Em mais um trecho vazado da delação do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que ex-primeira dama Michelle e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o 03, estavam entre os conselheiros radicais que incitava o então presidente a dar um golpe de Estado. E que ele não deveria aceitar a derrota para Lula (PT) em 2022.
Cid, em delação à PF, disse que a dupla lembrava a todo mundo que Bolsonaro tinha apoio da população e dos atiradores esportivos, conhecidos como CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), para uma tentativa de golpe.
Além disso, o ex-presidente não queria diminuir a ocupação de manifestantes golpistas acampados em unidades militares pelo país porque acreditava de verdade alguém encontraria algum indício de fraude nas urnas. Claro, isso não aconteceu.
Enquanto Bolsonaro, sentado em sua cadeira, ouvia os conselhos criminosos da esposa e seu filho 03, curiosamente, foi outro filho quem tentou tirar do pai a ideia de aplicar um golpe militar: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Claro, nessa altura, além de não haver provas de fraudes e todos os líderes mundiais parabenizando Lula pela vitória, uma minuta golpista apresentada pelo seu assessor Filipe Martins aos chefes das três Forças Armadas não vingou totalmente.
Apenas o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, manifestou apoio. Os chefes do Exército e da Aeronáutica se posicionaram contra a iniciativa golpista.
O material da delação premiada atualmente está sob análise da equipe do subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, na PGR (Procuradoria-Geral da República), que confirmou ao Uol a veracidade dos fatos. No entanto, não há provas físicas, sejam documentais ou áudio. Tudo seria baseado apenas no relato testemunhal de Cid.
Em nota, a defesa de Jair e Michelle Bolsonaro classificou as acusações de “absurdas” e disse que não são amparadas em elementos de prova. O advogado Paulo Cunha Bueno disse ainda que Bolsonaro ou seus familiares “jamais estiveram conectados a movimentos que projetassem a ruptura institucional do país”.
Ex-ajudante de ordens da Presidência da República, Cid era testemunha direta de conversas de Bolsonaro com aliados e relatou à PF a atuação de cada um deles após a derrota na eleição. Ele havia sido preso em maio, mas foi solto em setembro após assinar o acordo de delação com a Polícia Federal.