Segundo Brendon, a decisão de atar mãos, pés e pescoço de Moïse foi para que ele (Brendon) não fosse perseguido, depois, pelo congolês.
Aos policiais, Brendon disse que luta jiu-jitsu e que a briga começou porque ele pretendia defender o funcionário do quiosque conhecido como Baixinho. Ele também alegou que Moïse reagiu e confirmou que amarrou o congolês que ao notar que ele já não reagia.
Moïse para de respirar
Brendon segue o relato dizendo que voltou para o quiosque e um cliente disse que Moïse não estava respirando. O lutador afirmou ter desamarrado o congolês e que tentou reanimá-lo – essas cenas também estão nas imagens da câmera de segurança.
Como Moïse já não reagia, Brendon disse que tentou jogar água nos pulsos da vítima e, de novo, tentou fazer a massagem cardíaca. Segundo ele, outro agressor, de apelido Belo, chamou uma ambulância. Só no dia seguinte, de acordo com o relato, Brendon teria descoberto que Moïse morreu.
Trabalha em barraca de PM
Na declaração, Brendon também contou aos policiais que trabalha há cinco meses na Barra do Juninho, na Praia da Barra, que segundo ele é do cabo da Polícia Militar Alauir Faria. Brendon acrescentou que conhecia Moïse de vista, mas não se falavam.
No dia do assassinato, o lutador afirmou que estava no quiosque Biruta, vizinho ao Tropicália, e que ouviu uma confusão no estabelecimento do lado. Brendon disse que viu o congolês "metendo a mão no cooler" do quiosque e que tentou evitar.
A sequência do que ocorreu é possível ver nas imagens e também é confirmada por Brendon no relato. Ele derruba Moïse e passa a imobilizar o congolês, enquanto os outros agressores dão pauladas no refugiado. Ao todo, a vítima foi atingida por pelo menos 30 golpes de taco de madeira.
Presos negam que queriam matar congolês
Fábio Pirineus, Aleson Cristiano e Brendon Silva negaram em seus depoimentos à polícia que a intenção deles fosse matar.
O RJ2 teve acesso aos depoimentos do trio. Em um deles, Aleson, o agressor que golpeou o imigrante com um bastão, disse que as agressões foram para "extravasar a raiva" que estava sentindo porque, segundo ele, o congolês estava "perturbando há alguns dias".
Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, de 27 anos, trabalha como cozinheiro e garçom no quiosque Biruta, que fica ao lado do Tropicália, onde Moïse foi morto. O congolês, segundo Aleson, recentemente havia saído do Tropicália e para trabalhar no Biruta.
Foi Aleson que se entregou na 34ªDP (Bangu) na terça-feira (1º) e divulgou um vídeo dizendo que o espancamento não estava relacionado a uma dívida de Moïse ou a preconceitos contra a origem e raça do refugiado.
O garçom conta que, dias antes do crime, notou que o congolês estava diferente, consumindo mais bebida alcóolica, falando palavrões, ameaçando pessoas de agressão e insistindo para que clientes e funcionários de quiosques lhe dessem cerveja.
Aleson também afirmou que na noite do crime, por volta das 21h30, enquanto guardava cervejas para fechar o quiosque, viu Moïse pegando uma das bebidas no balcão sem pedir.