"Eu creio que o maior erro que fiz foi abrir as portas da minha casa aqui em Brasília. Eu abri a porta da minha casa num momento em que eu estava enfrentando a perda de um ente querido da minha família. E eu queria vacina para o Brasil", justificou o reverendo, com a voz embargada e contendo o choro.
O presidente da Secretária Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) admitiu ter culpa e, por isso, se desculpou perante aos senadores e ao Brasil. “O que eu cometi não agradou, primeiramente, aos olhos de Deus", completou o religioso. Em meio à fala, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), chegou a afirmar que Amilton cometeu crime de perjúrio e, em outro momento, questionou ao pastor qual seria o arrependimento específico. “De de ter estado nessa operação das vacinas”, respondeu o depoente.
O reverendo afirmou que foi usado 'de maneira ardilosa' e que a assessoria jurídica chegou a fazer um alerta sobre a credibilidade do policial militar Luiz Paulo Dominghetti, vendedor autônomo pela Davati e com quem Amilton mantinha a maior parte das conversas. “Ele [o advogado] pediu para ter cuidado com as credenciais de Dominghetti, mas pela sensibilidade que o Brasil estava vivendo, demos andamento na questão da vacina”, justificou.
Mesmo diante do pedido de desculpas, o reverendo continuou negando a relação com o governo, bem como ter tido ajuda política para entrar no Ministério da Saúde para negociar vacinas. Disse, ainda, desconhecer e não ter se encontrado com o ex-diretor de Logística Roberto Dias, informação que diverge da mensagem resgatada do celular de Dominghetti.
Diante das contradições, senadores integrantes do G7, grupo de membros da oposição e de independentes que formam maioria na comissão, criticaram a reação do reverendo. Aziz afirmou que as referidas credenciais de Dominghetti citadas eram compatíveis com as do depoente. “A sua referência, a sua prática é a mesma do Dominghetti”, disse, fazendo um comparativo com as tratativas da Pfizer.
“Milagrosamente a Davati conseguiu adentrar o Ministério da Saúde para vender 400 milhões doses e a Pfizer mandou carta e e-mail para todo mundo do governo e não conseguiu. […]. O governo não quis, mas ao reverendo o governo atendeu”, criticou Aziz, reiterando que a versão era “difícil de acreditar”.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) foi ainda mais enfático na crítica. “Eu não me comovo com as lágrimas, com as suas, não. Nada disso aqui é verdadeiro. A oferta de vacina, a conversa fiada de apoio humanitário. Tudo atrás de dinheiro, no pior momento da vida do Brasil”, disse Vieira, completando que o princípio cristão não está mais presente na conduta do pastor e que o momento não é mais de arrependimento, mas de punição.