‘Tem que sofrer mesmo’, disse bombeiro durante atendimento a estudante de medicina baleado por PM

 ‘Tem que sofrer mesmo’, disse bombeiro durante atendimento a estudante de medicina baleado por PM


(FOLHAPRESS) – Enquanto o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, entrava na sala de cirurgia do Hospital Ipiranga, na zona sul de São Paulo, após ser baleado na barriga por um PM, sua condição clínica e a estrutura da unidade médica para onde foi levado era motivo de risada em diálogo mantido entre bombeiros e um policial militar.

A conversa dos agentes ocorreu na entrada do centro cirúrgico e foi gravada pela câmera corporal usada por um dos PMs. A reportagem teve acesso à imagem nesta quarta-feira (15).

“Falaram que está sem tomografia, não tem como localizar nada, vai ser na mão”, diz um bombeiro. Um outro bombeiro da equipe responde: “tem que sofrer mesmo”.

Caçula de uma família de médicos, Acosta foi baleado na madrugada de 20 de novembro do ano passado após ser encurralado pelos soldados Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado dentro de um hotel na Vila Mariana, também na zona sul. Macedo foi o autor do único disparo. A ocorrência teve início depois de Acosta acertar um tapa no retrovisor da viatura em que a dupla estava e correr para dentro da hospedaria.

Toda a cena, do tapa no automóvel até a ação dentro do estabelecimento foi gravada pela câmera que Macedo usava presa ao uniforme.

O estudante foi levado ao Hospital Ipiranga, mas teve duas paradas cardiorrespiratórias antes de ser submetido a cirurgia.
Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública), disse, por nota, que “os diálogos descritos não representam o posicionamento institucional do Corpo de Bombeiros, tampouco condizem com as diretrizes e protocolos adotados pela Instituição”.

A pasta deu uma justificativa para a escolha pelo hospital que não estaria com o equipamento em funcionamento. Um das queixas da família de Acosta é a distância entre o local do tiro e o Hospital Ipiranga, cerca de 5 km, sendo que havia outras unidades médicas mais próximas.

“Importante destacar que o atendimento à vítima foi realizado respeitando integralmente os protocolos de emergência. O jovem foi encaminhado prontamente ao Hospital Ipiranga, após contato com o médico regulador que atua no Copom. Esse profissional acompanha, em tempo real, a disponibilidade hospitalar, incluindo leitos, equipamentos e especialidades médicas, garantindo que a vítima seja levada ao local mais adequado para o atendimento”.

As novas imagens obtidas nesta quarta também mostram o soldado Macedo afirmando para colegas de farda que já conhecia o estudante de medicina, citando a favela Mario Cardim, na Vila Mariana, que seria frequentada pelo jovem que morava com os pais, ambos médicos da USP (Universidade de São Paulo), nas proximidades.

“Eu conheço esse maluco da Mario Cardim, já tinha visto ele outras vezes”, relatou Macedo a policiais, entre eles um sargento. Outros PMs envolvidos na mesma ocorrência também disseram que conheciam Acosta.

Macedo foi alvo de pedido de prisão por parte do Ministério Público, mas rejeitado pela Justiça. Quase 11 meses depois do homicídio o caso ainda está em fase de instrução. Uma segunda audiência foi realizada na semana passada. Somente ao fim desse processo é que a juíza pode optar por levar os policiais para um possível júri popular.

O pai, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, trava uma luta incansável para conseguir a prisão dos policiais. Ele falou sobre o caso em uma das reuniões da ONU em Genebra, na Suíça. Navarro também já foi recebido pelo ministro da Justiça Ricardo Lewandowski.

Na nota encaminhada na noite de quarta, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que os fatos relacionados à morte do estudante foram rigorosamente investigados pelas polícias Civil e Militar.

“As imagens registradas pelas câmeras operacionais portáteis (COPs) foram anexadas aos procedimentos conduzidos pela Corregedoria da PM e pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). O policial militar envolvido foi indiciado por homicídio doloso no Inquérito Policial Militar (IPM) e permanece, desde o ocorrido, afastado de suas atividades operacionais. A Instituição aguarda a conclusão do processo criminal e a manifestação do Poder Judiciário”.

O corpo de Maria Clara Aguirre Lisboa foi encontrado enterrado e coberto por concreto na casa onde vivia com a mãe e o padrasto, que confessaram o crime. A polícia suspeita que a menina tenha sido morta há cerca de 20 dias e apura a participação de outros envolvidos

Notícias ao Minuto | 06:53 – 16/10/2025



Fonte: Notícias Minuto

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